Viação Itapemirim 20461 em Santa Rita de Minas por Antonio Aleixo - ID:8046133

Das fotos que consegui tirar no início dos anos 1990, essa é uma das minhas favoritas. Para uma imagem não planejada, saiu mais do que satisfatória e logrou capturar o meu sentimento na ocasião. No primeiro plano, revejo um pedaço do "altim", o lugar mágico de onde eu admirava o tráfego na Rio-Bahia quando vivia ali. Logo à frente, a lama que a chuva do final do ano trazia dos morros de uma Santa Rita ainda não asfaltada. No meio da imagem, a estrela do quadro: um Tribus III, das primeiras "fornadas", talvez até da primeiríssima, a de 1989, que só agora começava a circular para o Nordeste. A fumaça que sai do escapamento lembra a fugacidade do tempo, congelada em fotografia; fumaça é coisa que deixa de existir quase no mesmo instante em que vem a ser, mas na minha foto, ela em breve fará trinta anos. Lá na frente, alguém abriu a primeira janela e descansou um braço sobre a borda; por sua cabeça, talvez passe algo assim: "que lugarzinho interessante! Parece parado no tempo. Meu Deus! Ainda estamos em Minas; até São Luís, tem chão!" Se foi isso que pensou, certamente foi interrompido pela acelerada após a lombada, que recolocou o Tribus III em marcha de estrada; seja você quem for, meu caro viajante, quero que saiba que alguém te olhou, enquanto você olhava Santa Rita. E finalmente, o fundo da foto, demarcando um contraste de ritmos, como se a Rio-Bahia fosse uma cachoeira, e Santa Rita, as pedras ao redor. Algumas pessoas caminham em frente à borracharia, onde alguém descansa, talvez à espera de trabalho. É estranho, quando eu vivia em Santa Rita, dez anos antes, esse espaço era repleto de caminhões, mas agora está tão deserto! Não acredito que os caminhões tenham parado de furar pneu. O espaço vazio me causa um desagradável pressentimento de que o mundo que eu conheci está se alterando. Subindo a rua, vejo que alguém se sentou à porta de uma casa; "êta, vida besta!", diria Drummond numa hora dessas. No topo, uma pequena aglomeração de carros e alguém vigiando um Chevette; é final de ano, época de visitar a família no interior de Minas Gerais. Eu mesmo estou passando uns dias na casa da minha tia, do lado de cá da estrada, antes de seguir para São Cândido de Caratinga, onde eu nasci. E agora, antes de sair da foto, uma última olhada nos quintais; encontro antigas antenas de televisão (aquelas "bacias" que capturam os sinais dos satélites ainda vão demorar a chegar por aqui) e uma "roça de café", cultivo mais comum na região, junto com a cana de açúcar, que os caminhões entregam na Coopercana. Será que quando eu voltar a Santa Rita, ainda existirá roça ali atrás? E essas pessoas? Ainda estarão por aqui? Olha! Não saiam daí, ouviram?! Esperem, que eu vou voltar! E voltar trazer alguma coisa para senhor borracheiro consertar, porque coisa muito triste é ver alguém perder seu trabalho! Enfim, é tanta coisa, tanta história, tudo cristalizado num papelzinho tamanho 10X15! Não, é muito mais do que isso... https://www.facebook.com/aleixoantoniomarcos/